segunda-feira, 19 de novembro de 2007

CIVISMO

Penso que é consensual o reconhecimento geral de que existe um défice de civismo entre a população portuguesa. Vou um pouco mais longe e considero mesmo que a falta de civismo é um dos grandes males que afecta transversalmente a nossa sociedade, com consequências nefastas para Portugal tanto a nível social como económico.
A “esperteza saloia” do “chico esperto” é por muitos vista como uma das boas características do português e não são poucos os que evocam de modo elogioso esta “tão nossa” maneira de resolver problemas em situações complicadas, ou muito à portuguesa, “em cima da hora” e com soluções “em cima do joelho” que muitas vezes, e verdade seja dita, também se revelam geniais.
Esta “maneira de ser e de agir” encontra-se bem retratada no nosso imaginário por tantas anedotas que se contam, onde o português tem sempre uma solução simples, prática e eficaz para resolver os problemas mais complicados e descabidos.
Infelizmente e esta é uma opinião minha e muito pessoal, os casos de genialidade são raros, as soluções encontradas sempre muito provisórias e de “vistas curtas”.
O desenrasca está intrinsecamente associado a uma forma muito informal de fazer as coisas, normalmente e quando a acção tem que se enquadrar num determinado quadro legal, este não é tido em conta. Quando a solução pode afectar terceiros, estes não são tidos em conta, e por ai adiante. Desculpamo-nos com falta de dinheiro, com a burocracia pesada e lenta que trava os nossos objectivos, com a falta de tempo e pensa-se muito no próprio “umbigo” e pouco em quem está à nossa volta.
Uma pessoa bem educada é essencialmente alguém que não incomoda os outros. A “esperteza saloia” do “ser” português é incomodativa e está associada à falta de civismo.
O civismo e a falta dele é uma questão de educação, não tem a ver com classes sociais, grau de ensino ou poder económico. Tem a ver com a educação que recebemos, mas também com outro tipo de educação, a educação que damos a nós próprios e que, a meu ver, é tanto ou mais importante que aquela que nos foi transmitida.
Todos nós conhecemos exemplos de falta de civismo. Costumo referir sempre o mesmo caso pois é aquele que me consegue irritar solenemente. Quando estou parado no trânsito, normalmente numa faixa de acesso a uma via rápida, como na CRIL em direcção à Segunda Circular ou à AE de Cascais, noto que a grande maioria dos automobilistas são ordeiros e respeitam a fila que por vezes chega a ter 2 Km e muita paciência… outros condutores há que preferem ultrapassar toda a fila pela esquerda e “enfiarem-se” à “má fila” num intervalo entre dois carros, pedindo de seguida as devidas desculpas com um “levantar de mão”. Costumo dizer que no dia em que espontaneamente isto deixar de acontecer uma mudança de mentalidades estará a acontecer em Portugal.
Há alguns anos numa pequena tertúlia sobre civismo com um grupo de estagiários houve um deles que me contou um fenómeno bastante interessante, que acontece na linha sub-urbana de Sintra, aquela que tanta má fama acumula. Nessas estações, “apinhadas” de gente, as pessoas já sabem pela rotina diária o local exacto onde no cais o comboio vai parar, e onde vão ficar as portas de entrada. Em todas as estações da Linha de Sintra formam-se filas ordeiras, e que já nada têm de espontâneo, no cais de embarque em frente ao local onde as portas vão ficar. Ninguém se atropela nem desrespeita o próximo. Ninguém impôs esta regra, ela surgiu naturalmente e numa atitude cívica que todos respeitam. Observei-a “in loco” na altura, fazendo o percurso de comboio até Sintra em hora de ponta. Porque não acontece isto no metropolitano, ou na Linha de Cascais?
Infelizmente este caso que relato é uma excepção. Exemplos de falta de civismo não faltam, desde a REN que instala cabos de alta tenção sobre habitações, ignorando e desrespeitando os cidadãos e as ordens dos tribunais, como aconteceu recentemente em Sintra na freguesia de Monte Abrão, passando pelas “marquises” ilegais que desvirtuam as fachadas dos prédios de todo o país, indo ao desrespeito pelos professores incapacitados e obrigados a leccionar por juntas médicas que não têm médicos…
Enfim… o civismo é um assunto principal para Portugal, pois por trás dele estão os mais sérios problemas do país e também a solução para muitos deles.

Diogo Castro

21 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Um excelente ensaio sobre o civismo ou falta dele.

Infelizmente alguns pais, por incúria ou falta de tempo, não se apercebem que a educação deve ser dada desde o tempo das fraldas e dos biberons e é uma postura de todos os dias, um processo sempre em curso.

Grata por esta partilha.
I.

antonio manuel bento disse...

Caro Senhor Diogo Castro,

Venho aqui expressamente na certeza de que estou perante um cidadão - honesto certamente - na verdadeira acepção da palavra! Parabéns pela dissecação e pela eloquência e pelo seu acto de cidadania, um exemplo a seguir por todos e uma mais valia para o nosso estimado Concelho de Oeiras.
Com elevada consideração, apreço e estima, subscreve-se honestamente,

António Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade.

Edmundo Afonso disse...

Caro Diogo Castro,

Na absoluta certeza que o Civismo é uma presença assídua no Blog Oeiras Pública, consciente da importância do mesmo no dia a dia de todos, penso que o tema exposto é de vital importância para o quotidiano de toda a sociedade na qual vivemos, habitamos. Com ele, associado a uma saudável cidadania, todos temos a ganhar.
Parabéns pelo artigo exposto e espero que continue.

Cumprimentos,

Edmundo Afonso

Anónimo disse...

Civismo!! Ora aqui está um tema tão interessante!... O Civismo!
(Rima com Cinismo.... uma pequena diferença de um "n" até um "v"!)

Enfim, parece que hoje em dia é dificil pôr em práctica valores desta ordem, muito mais ainda, quando os exemplos que temos por perto (do Pái à Mãe - para começar por casa - passando pelos diversos meios por onde todos passamos e "crescemos", até onde acabamos por nos desenvolver como profissionais, nas mais diversas situações e onde de facto - na grande maioria - CIVISMO não existe).
Tristemente, continuamos a apontar correctamente para as direcções, mas só apontar, não chega.
Partilho da opinião, que (sem qualquer sentimento de Paternalismo) falta um verdadeiro sentido de autoridade.
Não essa "autoridade" mesquinha, que coloca muitos e tantos "istas" por esse País fora em Medos Faroleiros, ou tantos e tantas pessoas, que na pele sofreram outros tempos em que autoridade significava (triste e infelizmente) uma Castração da Liberdade.
De facto, Civismo e Liberdade, deveriam andar (em minha opinião) de mãos dadas.
Acredito, que estamos num longo processo de transformação, com consequentes reflexos no nosso crescimento enquanto seres humanos sociais, e por tal Sociabilisáveis.
Estou em crer, que mais do que a regra da "moral e bons costumes" costumeiros de quem defende "à reguada" soluções mais drásticas, é necessário DEBATER PROFUNDAMENTE nos locais próprios e de forma complectamente ABERTA, as melhores (sufraguáveis até) estratégias, para implementar um conhecimento profundo do bom viver em Civismo para com o nosso semelhante.

Caríssimo Diogo Castro, os meus Parabens por este seu espaço, que desde já informo serei concerteza visitante assiduo.

sem mais,

Emanuel C.C.

antonio manuel bento disse...

Vem também este tema e muito a propósito de um outro que se passou com um conhecido também de Oeiras - um cidadão honesto e que muito prezo - que nos contou um abuso cívico que ocorria - pois que já não ocorre - na sua zona de residência - que não interessa aqui mencionar - e que a todos nos deixou extremamente indignados e diria mesmo revoltados.
Pois que o referido cidadão tem um vizinho que abusivamente se considera “deficiente” tendo por isso um dístico no carro alusivo ao seu padecimento que ao mesmo tempo lhe confere um lugar de estacionamento para deficientes na sua rua - a mesma do meu conhecido.
Tal facto seria compreensível e é mesmo bom que assim seja, já que todos devemos respeitar os deficientes - portadores de efeméride. Ora passa-se - passava-se - que o referido sujeito - auto intitulado abusivamente de “deficiente” - não tem mais deficiências do que eu ou do que muitos outros colegas de bairro assim como membros da colectividade. Um pouco coxo, é certo, mas nada a que se possa chamar de deficiência no sentido real do termo - Eu também vejo mal e não sou deficiente, já se fosse cego seria pois deficiente. É importante saber distinguir os graus de padecimentos e compreender que se o sujeito não tivesse uma perna ou mancasse demasiado a situação seria pois de deficiência, ora não é esse o caso.
Sabedores desta realidade muitos cidadãos, como este meu conterrâneo, por vezes - e revoltados com o abuso - estacionam o carro no lugar do sujeito, o qual achando-se dono da verdade e do poder absoluto chama a policia que já rebocou algumas viaturas. Quando a policia não vem o sujeito atravessa vilmente o seu carro em segunda fila impedindo que o outro saia - alguns casos de longas horas.
Ficando pois ao corrente desta situação e respeitando muito os verdadeiros “deficientes” julgo ser inqualificável a atribuição de lugar de estacionamento a um sujeito deste nível - que não nasceu em Oeiras certamente - por parte da CMO. Compreendendo também que quem lá está apenas se preocupa em atentar ao contribuinte - espoliado em seus impostos - e em encher os bolsos - nomeadamente o bandido e o sócio cabecilha.
Por tudo isso e após ouvirmos o cidadão repusemos a legalidade actuando a bem da verdade e da causa pública. Assim chamámos uns conterrâneos mais novos de colectividade e com uma chave inglesa retirámos uma das placas indicadoras da matricula vil de um dos extremos do referido lugar (deixando o poste). Assim e deste modo não está definido se o lugar do “dificiente” é à direita ou à esquerda e assim e perante a lei o denominado “auto de noticia” é inválido e ilegal. Assim e deste modo hoje já ninguém liga ao sujeito e a policia não pode mesmo MULTAR - não há sinalética…
Se fossemos uma país de gente séria e honesta o povo não teria necessidade de descer à rua para pôr na ordem certas situações, mas ao estado de descalabro a que a sociedade chegou o que é preciso é agir e exercer o direito em acção popular. Não é tempo de complexos esquerdistas, é tempo de combater demagogias sociais impostas vilmente!
Viva Portugal! Viva Oeiras! Viva o Oeiras Local!

António Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade.

Anónimo disse...

"- que não nasceu em Oeiras certamente - "

Pronto, ficamos a saber, pelo 'douto cidadão' que, lugares de estacionamento só para 'deficientes nascidos no concelho de Oeiras'.

E esta, hem? eheheheh

post scriptum - isto é melhor que ir ao cinema.

Anónimo disse...

Você é um Verdadeiro Prato!!
Oh Xenhô "Vennnto", o Xenhô, por acaso (só poderá ter mesmo sido "um acaso"!) não terá tropeçado no degrau das escadas daquela história aos quadradinhos, e assim precepitado para esta Vida Real?!?!?
Agora percebo porque o Sr. Baptista e a SrªDªMagalhães, lhe guardam tanta Estima!....
eu se fosse o Xenhô, voltava lá para a sua história aos quadradinhos, enquanto nós "tentaaaaamos" fazer alguma coisa de Util!!!

Beijokas apertadinhas a todos,

uma cidadona anónima

Anónimo disse...

Caro Provedor de Oeiras;

Tomo a liberdade de lhe oferecer um contributo para o tema em debate - CIVISMO.

Melhores cumprimentos.
O. Lopes

http://oeiraslocal.blogspot.com/2007/01/falar-de-democracia.html

Unknown disse...

.

Caro Diogo Castro,

Os meus sinceros PARABÉNS por este excelente texto.

Curioso um certo comentador fazer aqui em comentário a antítese do sentido da mensagem transmitida no post...

"Deus escreve direito por linhas tortas

Cumprimentos,

.

antonio manuel bento disse...

Caro José António,

Seja bem vindo a este espaço de blog e muito folgo em o ver em debate de ideias.

António Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade

antonio manuel bento disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Provedor de Oeiras disse...

Senhora Isabel Magalhães,

É um gosto imenso partilhar algumas ideias e pensamentos que me ocorrem, escrever sobre eles é um prazer e muito satisfeito fico por saber que gostou.
O civismo e a falta dele é um tema sobre o qual nunca é demais falar e que considero de grande importância. Muito ficou por dizer sobre civismo, só a falta de civismo nas nossas estradas daria um livro inteiro de reflexões e análises… Gostei de ver esse tema tratado no Oeiras Local.

Diogo Castro

Provedor de Oeiras disse...

Senhor Emanuel CC,

Fico contente por saber que gostou do Oeiras Pública e do texto que escrevi. Também satisfeito fiquei pelo contributo que deu, com uma não menos interessante reflexão sobre civismo.

Diogo Castro

Provedor de Oeiras disse...

Senhor Bento,

Demito-me de comentar o que escreveu. Encaro o seu texto como um apontamento de humor. Agora, não posse admitir que utilize este espaço para ofender as pessoas que aqui vêm. Todo e qualquer comentário que aqui insira e que seja ofensivo para os participantes será apagado.

Diogo Castro

Provedor de Oeiras disse...

Senhor José António,

Obrigado pelos parabéns que me envia.
Costumo ler os textos que publica no Oeiras Local, acho-os muito interessantes e por eles, os meus parabéns.

Diogo Castro

Anónimo disse...

Portugueses,
Sr. Diogo Castro,

Parabéns Sr. Castro, a sua análise, embora incompleta, tem virtudes muito claras que todos temos de engrandecer! Penso que estamos perante um tema que muita água deixa correr...
Julgo muito pertinentes diversos comentários aqui colocados, de vários comentadores já "conhecidos" de "outras guerras", "COMBATES" de forte oposição, mas esses, não têm a ombridade de, no espaço próprio DEBATER, de forma LIVRE, CORRECTA e JUSTA.
Há até quem aqui fale de Civismo e não tenha o mínimo comportamento nesse sentido, impondo a "lei da rolha" sempre que os comentários Lhe não interessam... enfim, apelido este comportamento de "cobardia" de alguém que apregoa algo, mas não o pratica... um exemplo prático de gente sem AUTORIDADE e RIGOR, que julga poder ganhar RESPEITO e PODER com este comportamento ANTIDEMOCRATA...

Viva PORTUGAL!!!
Viva a DEMOCRACIA!!
Viva OEIRAS!

Major Silvério

Provedor de Oeiras disse...

Senhor Edmundo Afonso,

Por lapso não lhe respondi da última vez que entrei no Oeiras Pública, aceite as minhas desculpas juntamente com um agradecimento pelo seu comentário.

Diogo Castro

Provedor de Oeiras disse...

Senhora Maria Portugal,
Obrigado pelo seu comentário e por ter visitado este espaço. Também as minhas desculpas por apenas agora lhe responder.
Diogo Castro

Provedor de Oeiras disse...

Senhor Lopes,
Já vou sendo bem informado a respeito da “peça”…
Obrigado pelo contributo.
Diogo Castro

Provedor de Oeiras disse...

Senhor Silvério,
Por muito que se escreva fica sempre muito por dizer, a análise que fiz estará sempre incompleta…
Diogo Castro

Anónimo disse...

Este sr bento é mesmo a «alegria» da blogosfera.

Só vendo e lendo se acreditaria. É como diz alguém, aí acima, «que se começa a entender...» muitos porquês.